domingo, 7 de julho de 2013

CARTA DE BOLONHA (1248)

Em 1248, na cidade de Bolonha (Itália), foi redigido o primeiro documento maçônico que até então se tem conhecimento: o "Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Muri et Lignamiis” .





Conhecido como "Carta de Bolonha" o texto foi escrito em latim, em três folhas de pergaminho,  redigido por um escrivão público em 8 de agosto de 1248, e por ordem do podestade e capitão (1)  Boniface de Cario, o estatuto foi registrado pelo Colégio dos Anciãos e guardado nos Arquivos da cidade. 

Naquela época, todo corpo de ofício tinha a obrigação de publicar seus estatutos para obter reconhecimento do poder público (como hoje denominamos), e a Carta de Bolonha proporcionava essa condição à sociedade dos Mestres da construção e da carpintaria.

Mesmo sendo o mais antigo documento da maçonaria operativa, a Carta de Bolonha foi quase sempre ignorada pelos historiadores, apesar de ter sido publicado em 1899 por Gaudenzi em sua obra Les Sociétés des Arts à Bologne au XIII siécle. Ainda assim, muitos pesquisadores indicam o Régius – Manuscrito Halliwell (1390) como o mais antigo.

Os estatutos de 1248 foram continuados pelos de 1254/1256, publicados em 1262, 1335 e 1336. Este último vigorou inalterado até 1797 na "Società dei Maestri Muratori" quando foi dissolvida por Napoleão Bonaparte.
 
A Carta de Bolonha se apresenta com alguns anexos, entre eles um datado de 1272 onde estão relacionados os nomes de 371 Mestres Maçons (Maestri Muratori), dos quais 2 escrivães, 2 frades e 6 nobres. Isso comprova que já naquela época homens estranhos ao ofício eram “Aceitos” entre os “Antigos e Livres” da Maçonaria Operativa e, portanto uma evolução mesmo que muito discreta para a Maçonaria Especulativa já tinha iniciado.

 
Em 1257 foi feita em comum acordo a separação entre os Mestres Maçons e os Mestres
Carpinteiros, até então uma única Corporação de Ofício que, embora separados em suas
respectivas Assembleias, eram governados pelos mesmos dirigentes.

 
A leitura da Carta de Bolonha é interessante por diversos aspectos. Primeiro por se tratar do texto mais antigo de regulamentação da Maçonaria Operativa e indicar que as associações de construtores são a evolução dos “Collegia fabrorum). Além disso, a Carta retrata fielmente como os Mestres da Construção e os Mestres da Carpintaria se organizaram afim de proporcionar uma existência legal à sua associação e proteger o ofício tanto no plano financeiro quanto no plano ético e moral. Trata-se de um rigoroso código de ética onde sanções são previstas não apenas para garantir um trabalho organizado e primoroso como também no sentido de zelar pela vida cotidiana dos construtores.

 
Um detalhe interessante é que os Estatutos obrigavam os membros da associação a manter um caderno, deixando claro que possuíam algum conhecimento de escrita e leitura, fato a ser destacado pois naquela época a maior parte da população era analfabeta.

(1) O podestade era o o principal magistrado civil, já que era responsável pela segurança, ele conduzia a polícia e a justiça. O capitão comandava as forças armadas. Em 1248 Boniface de Cario acumulava as duas funções.      
Bibliografia: 
FERRÉ, Jean. A História da Franco-Maçonaria (1248-1782). Madras Editora, 2003.
Publicação original francesa sob o título Histoire de la franc-maçonnerie par les textes (1248-1783).

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