Em 1248, na cidade de Bolonha (Itália), foi redigido o primeiro documento maçônico que até então se tem conhecimento: o "Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Muri et Lignamiis” .
Conhecido como "Carta de Bolonha" o texto foi escrito em latim, em três folhas de pergaminho, redigido por um escrivão público em 8 de agosto de 1248, e por ordem do podestade e capitão (1) Boniface de Cario, o estatuto foi registrado pelo Colégio dos Anciãos e guardado nos Arquivos da cidade.
Naquela época, todo corpo de ofício tinha a obrigação de publicar seus estatutos para obter reconhecimento do poder público (como hoje denominamos), e a Carta de Bolonha proporcionava essa condição à sociedade dos Mestres da construção e da carpintaria.
Mesmo sendo o mais antigo documento da maçonaria operativa, a Carta de Bolonha foi quase sempre ignorada pelos historiadores, apesar de ter sido publicado em 1899 por Gaudenzi em sua obra Les Sociétés des Arts à Bologne au XIII siécle. Ainda assim, muitos pesquisadores indicam o Régius – Manuscrito Halliwell (1390) como o mais antigo.
Os estatutos de 1248 foram continuados pelos de 1254/1256, publicados em 1262, 1335 e 1336. Este último vigorou inalterado até 1797 na "Società dei Maestri Muratori" quando foi dissolvida por Napoleão Bonaparte.
A Carta de Bolonha se apresenta com alguns anexos, entre eles um datado de 1272 onde estão relacionados os nomes de 371 Mestres Maçons (Maestri Muratori), dos quais 2 escrivães, 2 frades e 6 nobres. Isso comprova que já naquela época homens estranhos ao ofício eram “Aceitos” entre os “Antigos e Livres” da Maçonaria Operativa e, portanto uma evolução mesmo que muito discreta para a Maçonaria Especulativa já tinha iniciado.
Em 1257 foi feita em comum acordo a separação entre os Mestres Maçons e os Mestres
Carpinteiros, até então uma única Corporação de Ofício que, embora separados em suas
respectivas Assembleias, eram governados pelos mesmos dirigentes.
Carpinteiros, até então uma única Corporação de Ofício que, embora separados em suas
respectivas Assembleias, eram governados pelos mesmos dirigentes.
A leitura da Carta de Bolonha é interessante por diversos aspectos. Primeiro por se tratar do texto mais antigo de regulamentação da Maçonaria Operativa e indicar que as associações de construtores são a evolução dos “Collegia fabrorum). Além disso, a Carta retrata fielmente como os Mestres da Construção e os Mestres da Carpintaria se organizaram afim de proporcionar uma existência legal à sua associação e proteger o ofício tanto no plano financeiro quanto no plano ético e moral. Trata-se de um rigoroso código de ética onde sanções são previstas não apenas para garantir um trabalho organizado e primoroso como também no sentido de zelar pela vida cotidiana dos construtores.
Um detalhe interessante é que os Estatutos obrigavam os membros da associação a manter um caderno, deixando claro que possuíam algum conhecimento de escrita e leitura, fato a ser destacado pois naquela época a maior parte da população era analfabeta.
(1) O podestade era o o principal magistrado civil, já que era responsável pela segurança, ele conduzia a polícia e a justiça. O capitão comandava as forças armadas. Em 1248 Boniface de Cario acumulava as duas funções.
Bibliografia:
FERRÉ, Jean. A História da Franco-Maçonaria (1248-1782). Madras Editora, 2003.
Publicação original francesa sob o título Histoire de la franc-maçonnerie par les textes (1248-1783).
Uma bom resumo da Carta de Bolonha.
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